NOITE DE OUTONO


Serei eu mais uma vez lançada na obscuridade da solidão? Que faço de tão amargo para ser assim esquecida? Com quantos hei eu de contar para vir em meu socorro, trazendo quem sabe, sorrisos, cores e música? No meu peito o coração reclama, dói e arde. Meus olhos já não querem mais sorrir, cambaleiam através de sonhos a muito perdidos. Minha boca, como as flores neste outono, ficou seca e muda. Já não vejo a luz carmim que antes enchia minha vida de colorido. Lágrimas é tudo que me resta para consolar. Até o colo latente e vívido que antes tanto se dispôs, hoje foge de minha mão. Calaram-me com desconfianças supostas, me deixaram por estórias vãs, me esqueceram pela luz artificial de idéias falsas. Já não tenho mais o brilho das estrelas, que dantes lhes traziam companhia? Morreram todas as esperanças que emanavam de meus gestos?
Tenho que ser eu! Tenho que mostrar fortaleza e sorver tudo como algodão. Sim, tem de ser eu, a acalentar o amanhã, que talvez possa não vir, mas pelo menos não me ausentarei. A cumprir cada passo de compromisso com minha promessas solitárias. Nunca me conformei com a frieza de tanta gente diante da vida que, vendo ela se esvair assiste acomodado. Ainda a pouco tudo será passado, como nos velhos tempos terei tomado as rédeas do caminho a percorrer. De novo serei levada pela bruma inebriante de suas frases. Acordarei ao som de lembranças sutis e serei transportada para o presente radiante. Sim, tenho que ser eu!

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